Meu maior e mais gostoso erro.


O MAIS ABSURDO DOS VÍCIOS
Arte de Matisse

por: Fabrício Carpinejar


Se você acha que se apaixonar é ruim, existe algo muito pior: é se viciar em alguém.
É mais do que paixão: é vício mesmo.
Não terá saudade, mas abstinência.
Não terá memória, mas flashbacks.
Não ficará distraída, mas apagada.
Não conseguirá lidar com a paciência, com a calma, com a espera.
Você estará transtornada mais do que transformada.
Foi arrastada, muito além de um arrebatamento.
Sofrerá de dependência química das palavras, dos abraços, dos beijos.
Até a alegria será um desespero.
Você não calcula qual o motivo da ligação.
Odeia estar assim, mas ama estar assim, já que nunca esteve assim.
Só chama o outro de chato, irritante, insuportável, porém nada interrompe a proximidade.
Não tem como largá-lo. As justificativas que arruma para se distanciar acabam acelerando o próximo encontro.
Nenhuma desculpa produz distância, nenhum blefe, nenhuma ameaça, nenhuma cena de ciúme.
Você não terá razão porque já perdeu a razão.
Sua ânsia é por mais uma dose. Daquilo. Daquele jeito. Com aquela força.
Viverá na boca de fumo.
É capaz de vender seus bens, seu passado, as roupas, para sustentar o prazer.
Tudo é a maldita droga de estar junto. Não se importará com a opinião da família e dos amigos. Comprará briga com o mundo para pagar o vício.
Desmarcará compromissos, atenderá qualquer chamado. Pode surgir no meio da madrugada, no meio da manhã, no meio da tarde. Pois casa de traficante não tem hora.
Um "Eu te amo" não será suficiente: é "Eu preciso de você agora".
É um vício do corpo, do cheiro, da voz, do temperamento, que pode levar à loucura.
Vai emagrecer, não vai dormir, vai se isolar, vai se estranhar, vai chorar e rir ao mesmo tempo.
Há pessoas que viciam. Simplesmente viciam. E estará perdida para todo o sempre.

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